quarta-feira, 24 de abril de 2019

LIDERANÇA -Um conto inspirador

Victoria Mataresio
Era uma vez um general que já não era tão jovem. Seus pulmões não tinham a mesma potência de antes e ele estava aleijado de uma perna. As raízes de seus cabelos estavam, aos poucos, embranquecendo. O povo dizia que ele estava condenado ao esquecimento e fadado a morrer sem um pingo de honra diante de sua nação, mas uma chama ardia incessantemente dentro daquele homem e tais palavras ardilosas não o afetava mais – mesmo que, um dia, tivessem tido total poder sobre as atitudes dele.
Quando pequeno, o general ouviu de algum sábio que “a vitória pertence aos perseverantes” e riu, não entendendo tal frase. Afinal, não eram os guerreiros mais fortes que venciam as batalhas tão intensas que travavam contra os outros reinos? E não eram os soldados mais inteligentes que criavam as melhores e mais eficientes estratégias para se infiltrar no terreno inimigo e, assim, alcançar os melhores resultados?
 Com esse mesmo pensamento, ele seguiu seus dias em busca de glória. Passou sua infância a treinar tanto quanto seus superiores, na tentativa de se tornar o mais forte entre os que também sonhavam em servir sua pátria, mas seus músculos se cansava cada dia mais. Quando não estava lutando, enfiava-se nas mais belas bibliotecas da capital em busca de conhecimento, almejando ser tão inteligente quanto qualquer um dos estrategistas do exército de sua terra, mas ao final do dia eram poucas as informações que estavam, de fato, guardadas em sua mente. Mesmo assim, ele insistia nessa fórmula: a mistura de força e inteligência que ele acreditava ser o único caminho para o sucesso.
 Nascido em uma família patrícia, sua vida parecia estar destinada a vários privilégios. As casas aristocráticas haviam tido um papel importante na ascensão de um novo imperador ao poder daquelas terras, sempre sob a retórica de que sua herança nobre era a maior força da nação. Com a ajuda da influência de sua família para com o monarca, ele se tornou soldado de um dos mais requisitados batalhões de seu país.
Mas em determinado dia, no auge de sua juventude, ele percebeu que algo estava profundamente errado em seu modo de liderança – não somente para com os outros, mas para consigo mesmo. Estava guiando sua vida e seus atos da pior maneira possível e não sabia como se tornar eficaz. Seu sonho de ser um líder respeitado e cheio de boa fama parecia escorrer por entre seus dedos feito areia. Como poderia ser um bom líder, se nem ao menos sabia o que era necessário para tal?
 Foi nesse mesmo momento em que ele encontrou alguém para guiá-lo. Seu mestre era ágil, sagaz e vitorioso – não tinha sido escolhido como o monarca da nação atoa. O rei viu graça na determinação de seu subordinado e, diferentemente de todos os outros governadores que passaram por aquele trono, estimulou-o; não somente a ele, mas a todos os soldados que necessitavam de sua aura motivadora. Nosso soldado, carregado pela esperança transmitida pelo seu líder, tornou-se um general. Sabia que era apenas um entre muitos, mas seu mestre o fez acreditar que algo o tornava único. Qual era o segredo daquele homem tão... inspirador?

Aquele mesmo rei faleceu vários anos depois. Não literalmente, quando o corpo perde a vida e é enterrado a sete palmos de profundidade, mas seu espírito de liderança se esvaiu e ele se tornou mais do mesmo. Conforme os meses passavam, o poder parecia tomar conta daquele imperador e seus atos já não eram tão inspiradores quanto antigamente. Os discursos que orquestrava, antes carregados de sensibilidade e autoridade, pareciam se perder em meras ordens, seguidas de extrema pressão em cima de suas tropas. O rei criava objetivos cada vez mais impossíveis e, ao invés de guiar seus subordinados em busca de resultados satisfatórios, permanecia sentado no trono enquanto aguardava suas vontades serem feitas.
O general demorou um pouco para se dar conta disso. Muitas tropas sentiram-se traídas por seu imperador, o que as levou a conspirar contra seu governo em uma cabala secreta unida por nada mais do que o símbolo de uma rosa negra. Ele acabou com todas elas, indignado em ver que haviam pessoas capazes de se erguer contra o seu mestre. Seu imperador era o homem mais forte! Seu imperador era o homem mais inteligente! Não era um absurdo que alguém pudesse cogitar a ideia de se opor a autoridade dele?
Foi em sua primeira falha como general que o homem caiu em si. O apoio outrora recebido por seu rei já não existia mais, e em seu lugar vivia um espírito amargurado, repleto de reclamações e críticas do mais baixo nível. O imperador se perdeu no caminho para a governança perfeita, dando espaço para suas ambições e para a forma como seus desejos começavam a manipular sua mente. O monarca estava louco.
Por mais que se visse incapaz de desistir de seu líder, o general não podia mais negar. Os exércitos já não eram fortes como antigamente e seu país sucumbia perante a glória que atingira um dia, mas era tarde demais para que ele pudesse agir. Durante a última batalha que disputou por sua pátria, o homem perdeu muito mais do que seu braço decepado pelo inimigo – sua honra se foi, e sua vida quase teve o mesmo trágico fim.
Quando retornou para a sua terra, o mesmo rei que lhe abraçou muitos e muitos anos antes o expulsou do exército, após seu desonroso fracasso. O general, que agora não passava de um aleijado, decidiu descobrir o que tinha dado errado no governo de seu tão admirado imperador. Muitas eram as possibilidades para tal, mas apenas uma resposta foi esclarecedora o bastante para o homem sem honra.
O monarca, ao se dar conta do poder que tinha em mãos, deixou-se levar pelos objetivos gananciosos a sua frente. Isso custou não somente sua capacidade de liderança, mas dividiu o seu povo e transformou todo o ambiente em que vivia. Murmúrios e conspirações surgiam em todos os cantos da capital, tramoias contra sua vida eram armadas e os resultados de sua pátria perante os inimigos eram cada vez mais decadentes e vergonhosos. Tudo isso desde o instante em que ele abriu mão de se comunicar com seus soldados, de entender seu povo e de trabalhar um ambiente que pudesse estimular seus liderados a atingir satisfação.
 Mas o homem jurou a si mesmo que mudaria essa situação.

Depois de muitos anos nas sombras, o general finalmente se viu na luz. Precisou de um longo tempo de trabalho árduo sozinho, mas agora ele se encontrava diante de seus próprios soldados e batalhões, liderando o seu povo da maneira com a qual tanto sonhou. Sentado em seu trono, o agora nomeado Grande General sorria para seus liderados, entendendo enfim a frase dita por um sábio homem quando ele ainda era uma criança. De fato, a vitória era dos perseverantes – afinal, ele só alcançou o título de bom líder após muita persistência de sua parte.
Em um de seus discursos como líder, ele relembrou o povo de toda a trajetória do antigo imperador, desde os gloriosos dias de seu governo até as mais terríveis humilhações. O general prometeu para si mesmo e para o povo que jamais seguiria o exemplo do homem que seu rei tinha se tornado ao longo dos anos, mas faria uso das melhores características que, um dia, aquele monarca demonstrou: sensibilidade, percepção, autoridade, influência, valorização de seu povo e, acima de tudo, amor para com as coisas que fazia.
E então, ele governou com maestria aquela nação até o dia de sua morte.
Mas qual é o intuito desse conto enorme, afinal?
Por mais que nosso general viva em uma época distante da nossa atualidade, é impossível não comparar suas experiências com o que vemos no dia-a-dia dessa era. Todos podem ser chefes, mas nem todos tem a visão necessária para se tornarem líderes – e em certas vezes, líderes podem acabar se corrompendo pelas dificuldades ou pelas ambições que podem surgir no meio do caminho. É assustador, mas afirmo com clareza que conheço mais de um “imperador” no mundo real; por outro lado, já me deparei com vários generais e vários soldados, tanto em seus momentos motivados como em seus momentos de total angústia.
Acontece que nem todo soldado se dá conta das suas habilidades. A primeira coisa que quero deixar clara é que qualquer um – qualquer um mesmo, principalmente você que está lendo isso – possui uma característica que te torna único e alguma coisa na qual é bom. Muitos, infelizmente, não percebem o quão produtivos podem ser pois não obtiveram o estímulo necessário para tal. A segunda coisa que quero frisar é que qualquer líder tem autonomia o suficiente para transformar seus soldados em generais, os estimulando sem perderem-se no meio do trajeto.
Não se é líder batendo nas cabeças das pessoas. Precisar dominar os outros é justamente admitir a necessidade de outros. O chefe é um dependente direto de sua equipe e não existiria sem ela! Quando você pensa sobre o que é liderança, o que lhe vem à cabeça? Para algumas pessoas, a imagem de um alto e bem pago executivo. Para outros, um sábio como Mahatma Gandhi ou um mestre da guerra como Sun Tzu. Não é necessário usar terno e gravata para comandar, mas sim saber conduzir um grupo de pessoas rumo a um objetivo em comum. É uma questão de postura, mais do que status ou mesmo condição financeira.
Um verdadeiro líder ensina a fazer ao invés de mandar que seja feito; ele cria um ambiente de comunicação com seus colaboradores, não dando brechas para murmúrios ou para fofocas. Ser um líder é ser um mestre em gestão de pessoas – é valorizar o capital humano e entender que não há resultados sem ele. É saber onde se quer chegar, e ser implacável nisso.
Ser um bom líder é simplesmente fazer uso de cada uma de suas habilidades de forma correta e no momento certo. Não é tão fácil fazer, mas só se torna impossível para aqueles que limitam a altura que suas asas podem alçar voo.
Assim, será sabido que o líder dos exércitos é o árbitro do destino do povo, o homem do qual dependerá se a nação estará em paz ou em perigo. – Sun Tzu.
Victoria Mataresio: Tecnologa em Recursos Humanos em Formação

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